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Imunologia X Reprodução Humana

Autor: Prof. Dr. Edilberto de Araujo Filho
Data: 23/03/2014

Conheça a importância dessa ciência para o sucesso dos procedimentos de fertilização in vitro

 

Com o avanço da tecnologia, principalmente nas técnicas de reprodução humana, é incoerente dar um diagnóstico de esterilidade sem causa aparente (ESCA) a um casal sem antes investigar profundamente todas as causas dessa infertilidade. Nesse ponto, a imunologia pode trazer uma grande ajuda. Mas qual seria a relação entre essa ciência e a reprodução humana?

 

Segundo estudos divulgados por Mcintyre, JÁ em 2003, por Vinatier,D, Dufour,P, Cosson,M, Houpeau,JL, em 2001, e por Rote,NS., em 1996, 84% das mulheres que falharam em várias tentativas de FIV (fertilização in vitro) e 98% das que sofreram abortos espontâneos de repetição possuem alterações imunológicas que devem ser investigadas. Mesmo que isso gere custos um pouco maiores, certamente resultará em ganho de tempo e dinheiro o final do procedimento.

 

Mas como a imunologia pode interferir na reprodução? 

Para entendermos os aspectos imunológicos, é preciso conhecer um pouco de imunologia básica. O sistema imune é o principal mecanismo de defesa do nosso corpo contra agentes externos, como vírus e bactérias.

 

Nele, existem células especializadas que atacam agentes agressores, podendo fazê-lo de forma direta ou pela produção de anticorpos e substâncias como as citoquinas (mediadores químicos no processo de defesa do organismo).

 

O sistema imune também pode atacar outras células estranhas, como as cancerosas e até as transplantadas. Em resumo: ele está sempre pronto para atacar e destruir qualquer corpo que não faça parte do nosso organismo.

 

O problema é que o embrião é um corpo estranho para a mãe, considerando-se que apenas metade da sua carga genética é materna. Por muito tempo, o útero foi visto como uma barreira de proteção para que o sistema imune materno não reconhecesse o embrião dessa forma. Atualmente, sabemos que esse reconhecimento existe e é fundamental para um desenvolvimento adequado da gravidez.

 

Um dos fatores que podem atrapalhar a gestação é a existência de parentesco entre o casal. Devido à consangüinidade, a chance de um gene recessivo se expressar aumenta caso ele seja portado pelo marido e pela mulher. Podemos dizer que a diversidade genética é a maneira que a natureza encontrou para reproduzir com sucesso as espécies.

 

O sistema materno parece ter mecanismos para reconhecer um feto com carga genética diferente, produzindo os chamados ‘anticorpos bloqueadores’, que protegeriam o embrião recém-implantado no útero. Esse tipo de resposta chama-se aloimunidade.

 

O médico explica que, mesmo quando homem e mulher não são parentes, podem ocorrer casos nos quais a variabilidade genética de ambos é pequena. Com isso, os ‘anticorpos bloqueadores’ não são produzidos adequadamente, deixando o embrião vulnerável a um ataque do sistema imune materno. Esse seria o mecanismo para evitar que fetos geneticamente semelhantes fossem gerados, o que aumentara o risco de manifestações de doenças hereditárias.

 

Nos casos onde não há parentesco entre o casal, muitas vezes, o sistema imune materno interpreta o embrião como semelhante quando avalia apenas moléculas da membrana das células (Sistema HLA). Se existe certa semelhança entre o HLA materno e paterno, os anticorpos bloqueadores não são produzidos em quantidade adequada para proteger o embrião. Isso não significa que existe grande compatibilidade genética entre o casal e que o risco de má-formação seja maior. Mas o embrião terá uma maior chance de ser destruído pelo sistema imune da mãe e o quadro clínico poderá ser de abortamento de repetição.

 

Nesses casos, indica-se um tratamento imunológico baseado na utilização de vacinas produzidas com linfócitos presentes no sangue paterno. Elas são administradas no organismo materno com o intuito de estimular, por uma via diferente, a produção de anticorpos contra o HLA paterno e, assim, ter efeito protetor para o embrião numa gravidez subseqüente.

 

A avaliação da presença desses anticorpos é feita por meio de um exame chamado ‘Cross-Match” (Prova Cruzada). A forma mais adequada de realizá-lo é por meio da Citometria de Fluxo Quantitativa. Esse exame pesquisa a presença de anticorpos contra linfócitos paternos no sangue da mãe”, explica o especialista. Após a vacinação, segundo ele, um novo cross-match é realizado na mãe para conferir se o procedimento realmente proporcionou o efeito desejado.

 

Auto-imunidade

Mas o reconhecimento feito pelo sistema imune nem sempre é totalmente correto. Muitas vezes, ele pode apresentar falhas e reconhecer como estranhos componentes do nosso próprio organismo que se assemelham a substâncias estranhas pelas quais são produzidos os anticorpos.

 

“Esses ‘auto-anticorpos’ levam a quadros clínicos caracterizados por inflamações articulares e valvulares e aumento da formação de coágulos no sangue (trombose e embolia), o que também pode levar a quadros de abortamento de repetição e falhas de implantação embrionária, como esterilidade sem causa aparente e falhas repetidas em ciclos de fertilização in vitro, por exemplo.

 

Nem sempre a presença desses auto-anticorpos indica que a mulher seja portadora de uma doença auto-imune, como o lúpus. Muitas vezes, ela é sinal de um pequeno desequilíbrio, o qual pode se manifestar por meio de dificuldade para engravidar ou manter a gestação até o final.

 

Em casos como esse, podem ocorrer abortos repetidos ou complicações durante a gestação. Entre elas, podemos citar pré-eclampsia, insuficiência placentária, descolamento de placenta, crescimento intra-uterino inadequado e até o óbito fetal súbito. Tais casos costumam responder bem ao tratamento clínico específico.

 

Conheça alguns auto-anticorpos e problemas causados por eles

 

Anticorpos antifosfolípides – são anticorpos específicos para os fosfolípidos, substâncias que compõem as membranas de nossas células. Quando presentes em alta quantidade, os anticorpos geram áreas de enfarto e impedem as trocas materno-fetais, o que resulta em abortos e complicações durante as fases mais avançadas da gestação.

 

Anticorpos anti-tiróide – são auto-anticorpos que não têm participação direta na evolução da gravidez, porém serve como marcadores de alguns distúrbios imunológicos.

 

Anticorpos antinucleares – são detectados pela pesquisa de fator anti-núcleo (FAN). A presença deles indica atividade auto-imune que não causa nenhum problema fora do período gestacional. Mesmo assim, ela pode levar a fenômenos inflamatórios nocivos a uma placenta em formação. Geralmente, esses anticorpos estão relacionados com doenças auto-imunes, como o Lúpus Enfermatoso Sistêmico.

 

Células natural Killer (NK) – essas células são responsáveis pelo reconhecimento de células estranhas ao organismo, sejam elas infectadas por vírus ou com algum tipo de alteração que possa levar ao surgimento de um câncer. Elas destroem diretamente as células alteradas pela injeção de substâncias que levam à destruição de sua membrana. O revestimento interno do útero é rico em células Natural Killer (NK) e um alto número delas eleva a possibilidade de ocorrerem abortos de repetição.

 

Trombofilia hereditária – é causada pela coagulação no interior dos vasos sanguíneos, a qual pode se originar em decorrência de mutações genéticas. A pesquisa de trombofilia hereditária é obrigatória nos abortos de repetição

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