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Alimente sua Fertilidade

Revista BOA FORMA

06/08/2013

Ter hábitos saudáveis não protege apenas seu organismo e suas curvas.

Também aumenta as chances de você realizar o sonho de ser mãe.

Conheça aqui os principais aliados e inimigos da vida reprodutiva.

 

              Parece fácil: na hora que você estiver pronta para a maternidade, depois de estudar, trabalhar, viajar, ter estabilidade financeira e, claro, achar o parceiro ideal, é só fazer a lição de casa e pronto, a gravidez acontece. Na prática, pode ser um pouco mais complicado. O aumento da procura de clínicas de fertilização, inclusive por casais jovens, que o diga! Uma pesquisa da Escola de Medicina da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, divulgada em janeiro, encontrou uma explicação surpreendente para o fato: o desconhecimento da mulher sobre a própria biologia. Após ouvirem mil norte-americanas entre 18 e 40 anos, os cientistas constataram que metade nunca havia conversado com seu ginecologista a respeito de saúde reprodutiva e 40% acreditavam que seus ovários produziam óvulos durante toda a idade fértil.

               Na verdade, a mulher já nasce com seu estoque de óvulos. Por ocasião da primeira menstruação, essa reserva gira em torno de 300 a 400 mil. A partir daí, a cada mês, sob o estímulo hormonal, vários deles começam a se desenvolver, mas apenas um amadurece, enquanto os demais (em torno de mil!) morrem. Ao chegar aos 37 anos,  restam 25 mil óvulos. “Além de diminuir a quantidade, há um queda na qualidade”, avisa o ginecologista Márcio Coslovsky, especialista em reprodução humana, da Primordia Medicina Reprodutiva, no Rio de Janeiro. A fertilidade começa a cair a partir dos 35 anos e desaba após os 40. Então crescem os riscos de aborto e anomalias cromossômicas. No entanto, 20% das entrevistadas norte-americanas desconheciam que as chances de ser mãe diminuem com o avanço da idade. E 25% não sabiam do efeito nocivo de vilões como cigarro, obesidade e infecções sexualmente transmissíveis.

 

A força dos hábitos saudáveis

               

                Por outro lado, crescem as evidências de que hábitos saudáveis aumentam as possibilidades de concepção. O tema foi discutido no 8º Simpósio de Reprodução Humana, promovido pela Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (Sogesp) – Regional de São José do Rio Preto, no interior paulista. “Eu não me preocupava com o estilo de vida dos pacientes. No máximo, perguntava sobre cigarro, excesso de álcool e stress, que liberam radicais livres, piorando a qualidade dos óvulos e espermatozoides”, conta o especialista em reprodução humana Edilberto de Araújo Filho, coordenador do Simpósio e diretor do Centro de Reprodução Humana (CRH). “Até começar a perceber que a melhora nos hábitos nutricionais e o exercício bem orientado causam um alteração metabólica que tem impacto positivo na qualidade dos gametas.” A bióloga Lígia Previato, especialista em embriologia e chefe do Laboratório da CRH, observa essas mudanças no microscópio. “Às vezes, tinha tudo para dar certo: óvulo, espermatozoide e tecnologia para formar o embrião, mas o bebê não se materializava.” Com a ajuda da psicóloga da clínica, ela identificou uma correlação entre aqueles casos de insucesso e um estilo de ida pouco saudável: os casais comiam mal, eram sedentários e viviam estressados. Em vez de apenas repetir o procedimento no ciclo seguinte, começaram a propor outra abordagem: o casal deveria corrigir a alimentação, descobrir uma válvula de escape para o stress e, depois de três meses, retomar o tratamento. “A diferença aparece no microscópio: o óvulo fica mais brilhante, tem mais vitalidade”, diz a bióloga. “Quando está saudável, a mulher oferece ao óvulo as condições de desenvolver todo seu potencial. Além disso, seu sistema imunológico fica mais equilibrado e capaz de aceitar o embrião para que a gravidez prossiga bem.”

 

Hábitos certos à mesa

 

                O vínculo entre alimentação e fertilidade também foi demonstrado por uma pesquisa, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, com 401 casais que tentavam engravidar. Entre eles não havia queixa de infertilidade e as mulheres tinham de 18 a 44 anos. Ao longo de um ano, 347 engravidaram, e 54 não. Os casais que demoraram mais para “encomendar o bebê” tinham colesterol elevado. Não por estarem acima do peso – em excesso, a gordura causa desequilíbrio hormonal e doenças como ovário policístico, que derrubam as chances de conseguir a gravidez. “Embora o colesterol seja uma matéria prima para a produção dos hormônios sexuais, altos índices aliados à carência de nutrientes prejudicam os gametas”, explica a nutricionista Tatiana Rom, do Vida, Centro de Fertilidade da Rede d’Or, do Rio de Janeiro.

 

                “Os hábitos são aqueles detalhes que podem fazer a diferença”, diz o especialista em medicina reprodutiva Arnaldo Cambiaghi, do Centro de Reprodução Humana IPGO, em São Paulo, e coautor do livro Fertilidade e Alimentação (LaVidapress), que esmiúça o assunto. Para ele, não podem faltar na mesa alimentos favoráveis à saúde reprodutiva: óleos vegetais de boa qualidade, peixes e frutos do mar, cereais integrais, grãos, frutas, verduras e legumes. Esses três últimos preferencialmente orgânicos para evitar a ingestão de agrotóxicos. Ao mesmo tempo, deve ser reduzido o consumo de “alimentos antifertilidade”, em especial carne vermelha, produtos muito processados e industrializados e carboidratos refinados (pães e massas com farinha branca).

 

                “O melhor alimento é o que se estraga fora da geladeira”, orienta Tatiana Rom. Os demais estão cheios de conservantes e outros aditivos químicos, que podem ser nocivos. “Precisamos fornecer bons nutrientes as nossas células, em vez de ficarmos obsecadas com as calorias. Um suco de laranja tem mais calorias do que um refrigerante zero, mas ele oferece vitamina C e fibras. Por causa de preocupação exagerada com o peso, muitas pessoas riscam certos alimentos e se privam de nutrientes, o que é um perigo para a saúde geral e também para a reprodutiva”, alerta a nutricionista.

 

                Porém não adianta caprichar na dieta se o intestino não funcionar direito. “Ele é fundamental para absorver os nutrientes e impedir que toxinas e bactérias se concentrem no organismo”, avisa Tatiana. Quando está muito preso ou solto demais, a permeabilidade desse órgão fica alterada. Fibras, probióticos (bactérias do bem) e água são seus aliados. Em caso de intolerância e doenças inflamatórias intestinais, talvez seja preciso restringir leite e derivados (fontes de lactose) e glúten. “Não por modismo. Só em caso de necessidade”, diz a nutricionista.

 

Vida mais ativa

               

                Outro aliado importante é o exercício. Não só porque contribui para prevenir a obesidade – os quilos a mais atrapalham o projeto de ser mãe, assim como a magreza excessiva interfere na produção hormonal. “A atividade física bem orientada relaxa, ajuda a vencer o stress (outro inimigo da fertilidade), modula a síntese de hormônios, desinflama o organismo e colabora para o bem-estar geral”, enumera Lígia Previato. Mas é preciso dosar a medida. Como a falta, o excesso é ruim. “Quando se exagera no exercício, o sangue circulante se dirige, sobretudo para os músculos e chega menos ao ovário, o que pode favorecer o desequilíbrio na produção hormonal”, adverte a bióloga. A Organização Mundial de Saúde recomenda a prática de, pelo menos, 30 minutos de atividade física moderada cinco vezes por semana ou 20 minutos mais vigorosos três vezes por semana. E nada de recorrer a anabolizantes para definir os músculos. “É um perigo. Alteram completamente a síntese de hormônios, além de sobrecarregar o fígado”, adverte Edilberto de Araújo.

 

Longe dos inimigos

 

                De todos os vilões, o cigarro é o pior. Traz muitas substâncias tóxicas, que comprometem a irrigação dos ovários a ponto de adiantar a menopausa em dois anos. O fumo passivo também altera a atividade cerebral e ameaça a saúde. A lista de inimigos inclui ainda o excesso de álcool e o uso indiscriminado de suplementos alimentares. “O excesso de um pode comprometer a absorção do outro, interferindo no delicado equilíbrio do organismo”, salienta Lígia. Por isso, quando há uma deficiência nutricional comprovada, o consumo desses produtos deve ser acompanhado por um profissional.

 

                Também é preciso atenção aos recipientes plásticos. Submetidos a altas temperaturas, podem liberar Bisfenol-A (BPA), que, no corpo, age como hormônio estrogênio, competindo com o produzido pelos ovários, com risco de infertilidade, câncer de mama e danos ao fígado. Um biólogo da Universidade do Texas examinou 455 tipos de plástico comercializados nos Estados Unidos e encontrou sinais de estrogênio na maioria deles. Não esquente alimentos no micro-ondas em potes plásticos. Use o vidro. E nada de tomar água da garrafinha plástica que ficou esquecida no carro.

 

                A poluição é outro vilão. Estudos da Faculdade de Medicina da USP observaram uma queda na qualidade do esperma de 500 dos 748 motoboys e motoristas de ônibus e taxi estudados. Por inalarem metais pesados lançados ao ar pelos veículos, apresentaram uma concentração altíssima de radicais livres no sangue. Suspeita-se que as mulheres também sofram um impacto negativo. “Nem sempre é possível mudar para um local bucólico”, reconhece Edilberto. “Se você estiver bem equilibrada, o organismo terá condições de barrar essas toxinas.”

 

                De qualquer maneira, não dá para negligenciarmos a idade. “As mulheres de 40 anos têm hoje a aparência jovem, mas seus órgãos reprodutivos refletem sua idade cronológica”, diz Arnaldo Cambiaghi. A recomendação é observar quando sua mãe e as mulheres da família tiveram a última menstruação para planejar a maternidade. “Se chegou aos 32 e ainda não tem namorado e pretende um dia ser mãe, converse com o ginecologista sobre a possibilidade de congelar seus óvulos”, diz o médico. Mesmo adotando o estilo de vida mais saudável do mundo, nem sempre é possível driblar as leis da natureza.

 

Medidas preventivas

 

1 - Usar preservativo nas relações sexuais para se proteger contra doenças sexualmente transmissíveis. As bactérias que provocam a gonorreia e a clamídia podem migrar da vagina para as trompas e causar infecções perigosas. Vá ao ginecologista se tiver corrimento e nas consultas anuais de rotina.

 

2 - Procurar o médico caso apresente sintomas de doenças capazes de comprometer a fertilidade, como cólica menstrual forte (talvez seja endometriose) e menstruação irregular (síndrome dos ovários policísticos).

 

3 - Checar seus níveis da vitamina D. A deficiência é cada vez mais comum em países ensolarados porque as pessoas fogem do sol ou exageram no filtro solar. Essa vitamina está envolvida em mais de 70 processos orgânicos, inclusive na fertilidade.

 

4 - Pensar na possibilidade de congelar óvulos no caso de tratar um câncer. A radioterapia e certos quimioterápicos podem dificultar a concepção.

 

Bons aliados

 

Dentro de um cardápio equilibrado, os alimentos sugeridos pela nutricionista Tatiana Rom podem dar um upgrade à sua fertilidade.

 

Abacate – Já que um pouco de gordura é fundamental para a produção de hormônios sexuais, aposte nas melhores. Outras fontes: azeite e castanhas.

 

Aveia – Fornece fibras solúveis que estimulam o trabalho do intestino e ajudam no controle do colesterol. Outras fontes: frutas e vegetais.

 

Iogurte – A versão com probióticos protege a microbiota melhorando a absorção de vitaminas e minerais. Outras fontes: fibras e fermentados.

 

Ostras – Contêm zinco, mineral encontrado em largas doses nos espermatozoides e essencial para um óvulo saudável. Outras fontes: carnes e germe de trigo.

 

Nozes – Trazem a vitamina E, que fortalece as paredes do útero e a placenta. Outras fontes: azeite e germe de trigo.

 

Molho de tomate – Rico em licopeno, diminui a produção de radicais livres. Outras fontes: melancia e goiaba.

 

Laranja – Repleta de fibras amigas do intestino e vitamina C, antioxidante que protege o organismo contra substâncias tóxicas, contribui para a boa qualidade dos óvulos. Outras fontes: acerola, limão e morango.

 

Sardinha – O ômega-3 ajuda na fecundação e estimula o desenvolvimento dos neurônios e da retina do feto. Outras fontes: atum e óleo de linhaça.

 

Couve – Ótima fonte de ácido fólico, que promove a renovação celular e auxilia na formação do sistema nervoso do feto. Outras fontes: espinafre, agrião e levedo de cerveja.

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