Endometriose é uma das principais causas da infertilidade
Endometriose! Você sabia que esta doença, que atinge entre 7 e 10 milhões de brasileiras, é uma das principais causas de infertilidade feminina? Pesquisa realizada pela SBE (Associação Brasileira de Endometriose) revela que cerca de 10% das mulheres com idade entre 15 e 45 anos têm a doença, mas que mais da metade delas não sabia da existência do problema que pode dificultar e até impedir a maternidade.
Com o objetivo de atualizar o conhecimento, avaliando pesquisas e discutindo casos com outros profissionais, o médico Edilberto de Araújo Filho, diretor do Centro de Reprodução Humana de Rio Preto, participa neste final de semana do 12º Congresso Mundial de Endometriose. “Nosso objetivo é sempre procurar os melhores tratamentos e alternativas para nossas pacientes”, afirma o especialista em Reprodução Humana Assistida.
Preocupado com a importância de uma conscientização do público feminino, Edilberto de Araújo Filho respondeu algumas perguntas que podem ajudar mulheres a identificar os sintomas e a procurar um especialista o mais rápido possível.
O que é endometriose?
O termo endometriose vem de endométrio que é a mucosa (tecido) que reveste a cavidade do útero e cresce mensalmente sob o estímulo do estrogênio (hormônio feminino produzido pelo ovário). O endométrio ‘cresce’ mensalmente para receber o embrião. Não ocorrendo a chegada do embrião, esse tecido ‘morre’ e descama sob forma de menstruação.
A endometriose surge quando esse endométrio saí para fora de seu sítio normal, implantando nos ovários, na bexiga, no útero, nos ligamentos pélvicos, intestinos, e etc
Quais os sintomas da Endometriose?
Os sintomas da endometriose são bastante variados, indo desde a clássica cólica menstrual, que se prolonga por todo o período menstrual, às dores pélvicas crônicas e contínuas. É importante salientar que nem toda cólica menstrual é sinal de endometriose. Por exemplo, a mulher que desde o início de suas menstruações sente cólica e essa cólica não mudou seu padrão de comportamento, desaparecendo com a vinda da menstruação, é sugestiva de cólica fisiológica.
Outro sintoma importante é quando a mulher tem dor e/ou sangramento anal ou sangramento na urina ao menstruar. São frequentes também dores na relação sexual. Dores pélvicas crônicas ou surgimento de cólicas menstruais pós-cesariana têm que ser investigadas.
A endometriose causa a infertilidade?
Sim. Entre as pacientes que têm infertilidade de causa inexplicável, 35 a 40% apresentam endometriose. Portanto, pacientes inférteis sem causa aparente devem sempre ser investigadas quanto à possibilidade de terem endometriose. Por isso a importância de um diagnóstico breve.
O fator mecânico é a explicação mais lógica para a infertilidade por endometriose. Os focos podem provocar aderência por inflamação local, distorcendo a anatomia pélvica e, muitas vezes, causando dilatações ou obstruções tubárias. Com isso, a captação dos óvulos pelas trompas fica prejudicada.
Outra hipótese em estudo é que a endometriose cause alterações inflamatórias e imunológicas no útero e endométrio, atrapalhando assim a implantação do embrião.
Há um agravante que não pode ser ignorado: o diagnóstico tardio. Estima-se que 70% das adolescentes cuja cólica menstrual não melhora com medicamentos podem ter endometriose. Às vezes os sintomas não são valorizados e só depois de muito tempo de tentativas de engravidar ela é descoberta. Nesse caso, a idade mais avançada é o complicador somado à gravidade da endometriose.
O que pode causar a endometriose?
Existem várias teorias para tentar explicar a causa da endometriose, porém duas são as mais aceitas:
A primeira teoria é que mensalmente, ao menstruar, cerca de 80-90% das mulheres sangram via retrógrada (pelas trompas) para dentro da barriga. Esse sangue com o endométrio descamado é, normalmente, reabsorvido pelo organismo. Porém, com o menstruar mensal, eventualmente o organismo pode falhar e esse tecido endometrial fora de lugar implanta e passa a responder aos estímulos hormonais cíclicos dos ovários.
Dessa forma, todo mês, quando a mulher menstruar, os ‘focos’ que implantaram dentro da barriga vão sangrar também, causando uma reação inflamatória local que leva a aderências (quando um tecido cola no outro). A reação inflamatória leva ao local células de defesa e de vários tipos para tentar parar o processo, porém estudos têm mostrado que mesmo essas células de defesa têm sua função alterada; isso pode ser decorrente de substâncias produzidas pelo “foco”, que tornam essas células de defesa inativas, e/ou elas já são produzidas de forma alterada.
O fato é que a endometriose tem em sua fisiopatogenia (no seu mecanismo) uma possível falha do sistema imunológico. Mas essa teoria não explica os casos raros de endometriose encontradas em órgãos distantes.
- A segunda teoria existente é a do epitélio “celômico”. Basicamente diz que a mulher já nasce com tecido endometrial fora de seu sítio normal, ou seja, fora da cavidade do útero, e em determinado período da vida esse tecido se manifesta e cresce, surgindo a endometriose.
Talvez a fisiopatogenia da doença envolva as duas teorias.
Fatores externos podem influenciar no surgimento da doença?
Sim. Um fato importante de se destacar é que as mulheres estão optando por engravidar mais tarde, o que aumenta o risco da doença se manifestar - uma vez que os altos níveis de progesterona da gravidez e a ausência de menstruação contribuem para cura clínica da doença. Antigamente as mulheres engravidavam cedo, amamentavam mais e tinham mais filhos. Isso explica também porque a endometriose era pouco encontrada.
A cesariana tem sido também apontada como um possível agente que propicia o surgimento da endometriose. Isso porque ao abrir o útero para retirar o bebê, células endometriais fatalmente caem na cavidade e podem eventualmente se implantar.
O estresse, nervosismo e desequilíbrio emocional parecem favorecer a doença. O perfil psicológico mais frequente das mulheres com a doença são aquelas ansiosas, angustiadas, preocupadas, dinâmicas e muito ativas. Alguns trabalhos também têm mostrado ação de alguns poluentes ambientais, predispondo o sangramento da doença.
Como é realizado o diagnóstico da doença?
Quando se diagnostica a endometriose tem-se primeiramente que saber se a paciente quer ou não engravidar. No caso de querer engravidar, quanto mais cedo isso ocorrer melhor, pois a gravidez possui altos níveis de progesterona, sendo este o hormônio que se usa no tratamento da endometriose.
É discutível se a endometriose (mínima ou leve) é causa de infertilidade, mas para fazer este diagnóstico com certeza é necessário a realização de uma videolaparoscopia. O momento ideal de indicação para a videolaparoscopia ainda é motivo de discussão entre especialistas, mas quando as evidências ultrassonográficas, de ressonância ou de exames nas trompas são claras, a videolaparoscopia nos parece razoável de ser realizada. Nela você estadia a doença, trata e depois pode, então, decidir o caminho a seguir.
O fator idade da paciente deve ser levado em consideração pelo especialista na decisão do tipo de tratamento a realizar. Cada caso deve ser avaliado individualmente.
Endometriose tem cura?
O tratamento ainda é controverso em seus diferentes estágios, porém as medicações visam basicamente uma coisa só: destruir os focos do endométrio que estão fora do seu lugar de origem.
A progesterona (Hormônio feminino produzido após a ovulação) “seca” esses focos e é usada na forma sintética. Ela não é tão eficiente quanto as drogas que bloqueiam o funcionamento dos ovários, fazendo com que eles parem de funcionar e de produzir estrogênio (hormônio produzido pelo ovário que faz com que os focos de endometriose cresçam). Tais drogas que bloqueiam os ovários provocam uma “menopausa” temporária e consequentemente as pacientes param de menstruar.
Por serem drogas muito potentes o uso das mesmas está restrito a seis meses de modo ininterrupto, mas podem vir a ser reutilizadas após intervalos, caso a endometriose reative.
Novidade – Recentemente foi lançada uma droga bastante promissora no tratamento da endometriose. O dienogeste, em comprimidos diários e contínuos, é um derivado da progesterona que inibe a produção do estrogênio no endométrio. Ele não é um contraceptivo. Seu uso alivia os sintomas das dores sem os efeitos colaterais das injeções que bloqueiam temporariamente os ovários. Eles são de custo elevados, mas altamente eficiente no tratamento da doença.
A cura definitiva da endometriose só ocorrerá quando a mulher entrar na menopausa ou se for retirado os ovários. No entanto, deve-se evitar a retirada cirúrgica dos ovários em mulheres jovens, porque uma vez o fazendo será necessária a reposição hormonal prolongada, e esse procedimento ainda não foi adequadamente avaliado, principalmente por ter relação com os riscos de câncer de mama.
Escrito por: Ética Comunicação