O que é Endometriose?
Autor: Prof. Dr. Edilberto de Araujo Filho
Data: 04/06/2013
Esse nome tem assustado as mulheres em geral e preocupado os ginecologistas. A endometriose tem como sintomatologia a dor e pode causar infertilidade.
O termo endometriose vem de endométrio que é a mucosa (tecido) que reveste a cavidade do útero e cresce mensalmente sob o estímulo do estrogênio (hormônio feminino produzido pelo ovário). O endométrio “cresce” mensalmente para receber o embrião, não ocorrendo a chegada do embrião, esse tecido “morre” e descama sob forma de menstruação.
A endometriose surge quando esse endométrio saí para fora de seu sítio normal, implantando nos ovários, na bexiga, no útero, nos ligamentos pélvicos, intestinos.
O QUE PODE CAUSAR A ENDOMETRIOSE?
Existem várias teorias para tentar explicar a causa da endometriose, porém duas são as mais aceitas:
-A primeira teoria é que mensalmente ao menstruar em torno de 50% das mulheres sangram via retrógrada, isto é, pelas trompas, para dentro da barriga. Esse sangue com o endométrio descamado, é normalmente reabsorvido pelo organismo; porém com o menstruar mensal eventualmente o organismo pode falhar e esse tecido endometrial fora de lugar implanta.
Dessa forma, todo mês quando a mulher menstruar os “focos” que implantaram dentro da barriga vão sangrar também, causando uma reação inflamatória local que leva a aderência (quando um tecido cola no outro). A reação inflamatória leva ao local células de defesa e de vários tipos para tentar parar o processo, porém estudos têm mostrado que mesmo essas células de defesa têm sua função alterada; isso pode ser decorrente de substâncias produzidas pelo “foco” que tornam essas células de defesa inativas e/ou elas já são produzidas de forma alterada. O fato é que a endometriose tem em sua fisiopatogênica (tem no seu mecanismo) uma possível falha do sistema imunológico. Mas essa teoria não explica os caso raros de endometriose encontradas em órgãos distantes.
- A segunda teoria existente é a do epitélio “celônico”, basicamente diz que a mulher já nasce com tecido endometrial fora de seu sítio normal, ou seja, fora da cavidade do útero, e em determinado período da vida esse tecido se manifesta e cresce, surgindo a endometriose.
Talvez a fisiopatogenia da doença envolva as duas teorias.
Outro fato importante de se destacar é que as mulheres estão optando por engravidar mais tarde, o que aumenta o risco da doença se manifestar uma vez que os altos níveis de progesterona da gravidez e a ausência de menstruação contribuem para cura clínica da doença. Antigamente as mulheres engravidavam cedo, amamentavam mais e tinham mais filhos. Isso explica também porque a endometriose era pouco encontrada.
O estresse, nervosismo e desequilíbrio emocional parecem favorecer a doença. O perfil psicológico mais freqüente é de mulheres na maioria das vezes muito ativas, dinâmicas e preocupadas.
A cesariana tem sido também apontada como um possível agente que propicia o surgimento da endometriose. Isso porque ao abrir o útero para retirar o bebê células endometriais fatalmente caem na cavidade e podem eventualmente se implantar.
A endometriose pode ser encontrada em vários estágios e existem várias classificações para isso. A mais simples divide a doença em: leve, moderada e acentuada.
Na classificação leve, a paciente apresenta apenas alguns “focos” na pelve, sem aderências, sem formar cistos com sangue. A endometriose avançada apresenta-se com aderências múltiplas, as trompas estão aderidas, fixas, obstruídas ou não, mas incapazes de captar o óvulo.
Acredita-se que com o advento da vídeolaparoscopia e o treinamento dos ginecologistas voltado para o diagnóstico da patologia tem-se ajudado não só na prevenção precoce da doença, mas no diagnostico, o que facilita muito no tratamento.
QUAIS OS SINTOMAS DA ENDOMETRIOSE?
Os sintomas da endometriose são bastante variados, indo desde a clássica cólica menstrual que se prolonga por todo o período menstrual às dores pélvicas crônicas e continuas. É importante salientar que nem toda cólica menstrual é sinal de endometriose. Por exemplo, a mulher que desde o início de suas menstruações sente cólica e essa cólica não mudou seu padrão de comportamento desaparecendo com a vinda da menstruação é sugestiva de cólica fisiológica.
Outro sintoma importante é quando a mulher tem dor e/ou sangramento anal ou sangramento na urina ao menstruar. São freqüentes também dores na relação sexual fazendo diagnóstico diferencial com infecções uterinas.
Dores pélvicas crônicas ou surgimento de cólicas menstruais pós-cesariana têm que ser investigadas, como já expliquei nas causas.
As pacientes que têm infertilidade de causa inexplicável terão 35-40% de chance de apresentarem endometriose. Portanto, pacientes inférteis sem causa aparente devem sempre ser investigadas quanto à possibilidade de terem endometriose.
DIAGNÓSTICO DE ENDOMETRIOSE .
Os sintomas da paciente são de vital importância e portanto devem ser avaliado pelo ginecologista.
O ultrassom pélvico transvaginal pode visualizar cistos com conteúdo espesso nos ovários. Útero e anexos fixos ou pouco móveis à mobilização do transdutor vaginal; útero retrovertido ( “virado” ) em mulheres sem gravidez prévia e sem cirurgias pélvicas; pontos esbranquiçados ao ultrassom em vários locais da pelve. É importante frisar que o ultrassom não faz diagnóstico definitivo de endometriose, mas apenas levanta suspeita.
Somente a vídeolaparoscopia confirma a endometriose. Além disso classifica a doença o que é muito importante para traçar o tratamento a ser realizado. Através da videolaparoscopia podemos desfazer aderências, retirar cistos de endometriose e queimar os focos existentes, além de avaliar a permabilidade das trompas.
Dispomos ainda de um marcador tumoral chamado CA 125 que é dosado no sangue, porém ele não é específico para endometriose e pode se apresentar elevado em tumores ovarianos e outras patologias. Além disso não tem sensibilidade elevada para endometriose principalmente nos estágios iniciais. É freqüente encontrarmos níveis normais do CA 125 em pacientes com endometriose.
QUAL O TRATAMENTO DA ENDOMETRIOSE ? TEM CURA?
O tratamento ainda é controverso em seus diferentes estágios, porém as medicações visam basicamente uma coisa só: destruir os focos do endométrio que estão fora do seu lugar de origem.
A progesterona (Hormônio feminino produzido após a ovulação ) “seca” esses focos e é usada na forma sintética, não é tão eficiente quanto as drogas que bloqueiam o funcionamento dos ovários fazendo com que eles parem de funcionar de produzir estrogênio ( Hormônio produzido pelo ovário que fazem com que os focos de endometriose cresçam). Tais drogas que bloqueiam os ovários provocam uma “menopausa” temporária e consequentemente as pacientes param de menstruar.
Por serem drogas muito potentes o uso das mesmas está restrito a 6 meses de modo ininterrupto, mas podem vir a ser reutilizadas após intervalos, caso a endometriose reative.
Quando se diagnostica a endometriose tem-se primeiramente que saber a paciente quer ou não engravidar. No caso de querer engravidar, quanto mais cedo isso ocorrer melhor, pois a gravidez possui altos níveis de progesterona, sendo este o hormônio que se usa no tratamento da endometriose.
Nos estágios iniciais da doença (mínima ou leve) após a cauterização dos focos, pela vídeolaparoscopia, a paciente deve tentar engravidar logo, não usando análogo do GnRh ( as drogas que bloqueiam o funcionamento do ovário )outra opção seria tratar com lupron ou Neodecopeptil por 3 meses e tentar a gravidez após. Nos estágios avançados devem ser usados 6 meses de análogos do GnRh antes do tratamento para engravidar. Para as pacientes que não querem engravidar no momento aconselhamos o uso do análogo do GnRh por 6 meses ininterruptos em todos os estágios da doença, pois ela pode comprometer a fertilidade feminina.
O fator idade da paciente e tipo de tratamento, deve ser levado em consideração pelo especialista na decisão da extensão do uso dessas drogas bloqueadoras do ovário. Mas cada caso deve ser avaliado individualmente.
A cura definitiva da endometriose só ocorrerá quando a mulher entrar na menopausa ou se for ocaso a retira dos ovários. No entanto, deve-se evitar a retirada cirúrgica dos ovários em mulheres jovens, porque uma vez o fazendo, será necessário fazer reposição hormonal prolongado, e esse procedimento ainda não foi adequadamente avaliado, principalmente por ter relação com os riscos de câncer de mama.