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Pai também fica grávido, quem diria...

 

O marido foi substituído pelo parceiro de luta, pelo companheiro que também “engravida” ,“gesta”, engorda junto nos nove meses, tem desejos...

 


Autor: Ligia Previato Araújo - coluna da Revista Saúde RP
Data: 20/7/2010

 

 

Há dez anos tenho o privilégio de ajudar casais com dificuldades para engravidar a terem seus filhos. Com isso, conheci pessoas excepcionais, que lutam, que não desistem, que acreditam na vitória e na força da vida. Verdadeiros guerreiros. Isso inspira.



 

Junto à equipe do CRH Rio Preto, presencio belas histórias e algumas delas posso compartilhar com vocês. Certa vez, passando pela recepção da clínica, presenciei a cena de um paciente que, após muitas batalhas, acabara de saber que seria papai. A felicidade radiante e a realização desse homem contagiavam a todos que ali estavam. Ele agradecia a Deus, agradecia a todos, agradecia a vida. Sentiu, então, vontade de abraçar todo mundo, e assim o fez... Com os braços que um dia seguraria e abraçaria seu bebê.



 

Fatos como esse me fazem parar e pensar nas mudanças, positivas, por sinal, do comportamento dos homens e dos pais. Ao contrário do que parece, a motivação em constituir uma família com filhos não é exclusiva das mulheres.



 

Nesses anos, junto ao meu marido, que é meu parceiro nessa grande missão de ajudar a trazer bebês para esse mundo, observamos que, na maioria das vezes, o desejo de fazer um filho é do casal. Hoje, vemos pais tão grávidos quanto as mães. Quem diria!



 

Se voltarmos um pouco no tempo, vamos lembrar de como o homem tinha um papel bem definido na família — de mantenedores, procriadores e protetores do lar. Já acolher, acarinhar, dar de mamar, trocar fraldas, dar banho, enfim, cuidar da cria, como diziam, eram coisas de mulher.



 

Expressões como “meu filho”, “minha filha” e “minha mulher”, faziam parte desse diálogo possessivo e machista dos homens que pouco vivenciava o afeto. A sociedade cruel (no meu entender) dizia que menino que é macho não apanha, bate. Não chora, não se emociona... tem de ser forte, se não vira “mulherzinha”.



 

É claro que há diferenças entre homens e mulheres, a vida é sábia, ora precisamos da agressividade masculina, ora da delicadeza e doçura feminina. As diversidades entre as “duas partes” existem para que elas se completem, no entanto, posso garantir que ambos são dotados de sentimentos e emoções.



 

Percebo que aos poucos, esse “machismo” se dissipa e é trocado pela deliciosa liberdade de poder sentir e vivenciar o afeto. E o que é melhor? Os homens podem e até fazem questão de externar sentimentos tão nobres em público.



 

Quem ganha com isso é a família, as mulheres e a sociedade em geral. O marido foi substituído pelo parceiro de luta, pelo companheiro que também “engravida” ,“gesta”, engorda junto nos nove meses, tem desejos, compartilha as noites mal dormidas, as trocas de fraldas, as mamadeiras... que acarinha e que participa. Em troca, terá vários preciosos presentes, como o  primeiro ameaço de sorriso, as primeiras palavras, os primeiros passos... coisas difíceis de se dizer, só vivendo para entender.



 

Terá não apenas a admiração dos filhos, mas o verdadeiro amor que só nasce com a participação e a convivência. Frequentemente vivenciamos cenas de homens que choram e se emocionam com a notícia do “deu positivo”, fazendo a parte deles para que o tratamento dê certo.



 

A maioria faz questão de participar ativamente, acompanhando a esposa desde o primeiro até o último dia, tentando entender o que são aqueles “rabiscos” que aparecem nos ultrassons, segurando a mão da esposa na hora de tomar as injeções, “dando aquela força” que só o homem sabe dar.



 

Inteligentes esses homens que compartilham de suas emoções. Felizes de suas esposas e filhos. Esse é o caminho. Experiências como estas tornam ainda mais prazeroso e gratificante nosso trabalho, afinal deixamos o mundo literalmente mais cheio de vida.

 

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