Rio Preto tem 2,8 mil ‘bebês de laboratório’
O Centro de Reprodução Humana de Rio Preto, criado em 1996, é responsável pelo nascimento de 1.700 bebês
Autor: Helen Ventura - Diário da Região
Data: 23/1/2011
O primeiro bebê de proveta de Rio Preto completa 17 anos em maio. A estudante Maria Luciana Goulart da Costa Bignotti nasceu pelas mãos do médico Antônio Hélio Oliani em 1994 através da fertilização in vitro - técnica que se utiliza de laboratório para unir espermatozóide e óvulo e, desta forma, obter um embrião de boa qualidade que, em seguida, é transferido para o útero.
Assim como Luciana, 2,8 mil bebês já nasceram nestes 17 anos nos dois centros de fertilização existentes na cidade. O Instituto de Medicina Reprodutiva (IMR) deu vida a 900 crianças. Já o Centro de Reprodução Humana (CRH), criado em 1996, é responsável pelo nascimento de 1.700 bebês. Nos últimos anos, a procura tem aumentado. O CRH, por exemplo, tinha uma média de 90 nascimentos por ano em 2006. No ano passado, o número dobrou.
O custo do tratamento varia de R$ 500 (coito programado) a R$ 10 mil, fora o gasto com medicamentos, que varia de acordo com as particularidades da paciente assistida. A procura é maior por mulheres acima dos 35 anos. O responsável pelo CRH de Rio Preto, Edilberto de Araújo Filho, especialista em infertilidade, afirma que a acessibilidade - o custo era muito maior há cinco anos - e a mudança de comportamento são responsáveis pelo aumento na procura pela reprodução assistida.
“Hoje os tratamentos são muito mais acessíveis e existem mais centros de reprodução. Além disso, o homem perdeu a vergonha de procurar ajuda. Os tabus estão sendo vencidos", afirma Araújo Filho. O especialista Antônio Hélio Oliani, diretor clínico do IMR, diz que as mulheres estão demorando mais para engravidar. “O maior vilão da infertilidade é a idade da mulher. Elas estão batalhando por melhor trabalho e, com isso, casam mais tarde ou deixam a maternidade para depois da estabilidade financeira.”
As técnicas para conseguir engravidar são inúmeras. A mais simples, chamada de coito programado, é feita em casa com orientação médica. A fertilização in vitro é a mais procurada. De acordo com Araújo Filho, 60% dos casais buscam este tratamento. Luciana, a primeira bebê de proveta, diz que não sente diferença por ter nascido de uma reprodução assistida. “Hoje eu entendo mais ou menos como isso funciona. Minha mãe já me explicou, mas eu não vejo diferença. Ninguém fica perguntando.”
Foto de Guilherme Baffi
Edilberto de Araújo Filho, especialista em infertilidade: custo menor e mudança de comportamento são responsáveis pelo aumento na procura pela reprodução assistida
Resolução do CFM modifica regras
As recentes mudanças na resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que permitem tratamentos para casais homossexuais e a reprodução pós-morte a partir de registro em cartório, além da limitação do número de embriões a serem implantados de acordo com a idade da paciente, são aprovadas por advogados do ramo.
Para o advogado do Centro de Reprodução Humana (CRH), de Rio Preto, Luis Velani, as alterações avançam de forma prudente e sensata. “A ampliação ao acesso, que alguns podem considerar modesta, é um grande e decisivo passo no combate às discriminações. Esperamos que também os nossos legisladores federais despertem para a importância do tema e deem andamento aos projetos de lei encalhados na Câmara Federal.”
O advogado Eduardo Lemos Prado de Carvalho, do Instituto de Medicina Reprodutiva, afirma que a nova resolução veio para adaptar as regras de reprodução assistida à evolução tecnológica e também às modificações de comportamento social. “Entretanto, a questão da reprodução assistida para casais homossexuais está controversa e, na minha opinião, causará polêmica. No caso dos homens, a possibilidade ainda é inviável.”
Foto de Thomaz Vita Neto
O pequeno Júnior, um sonho realizado
O menino Valdevir Novelli Júnior, de 1 ano e 5 meses, não para um segundo e não desgruda do pai e da mãe. O leite materno ainda é o seu alimento preferido. Ele foi gerado a partir da fertilização in vitro porque a instrutora de trânsito Rosana Novelli, 39, não conseguia engravidar. O pai, Valdevir Novelli, 61 anos, já estava no segundo casamento e tinha três filhos, mas não hesitou em apoiar a mulher.
Foram implantados quatro embriões no útero de Rosana, mas apenas um “vingou”, como ela mesmo diz. “O Júnior tem uma saúde de ferro. Tive uma gravidez tranquila e parei de trabalhar, na época, por opção.” O marido diz que era vontade do casal de ter um bebê. “Ela tinha o sonho de ser mãe. Muita gente tem medo de ter filho, pela idade ou por causa da fertilização. Eu não.”
Segurança
O casal conta que sentiu-se seguro durante todo o tempo do procedimento. Quando decidiram ter um filho, optaram pelo CRH de Rio Preto. De acordo com o pai, o médico acompanhou todo o processo e permitiu que ele também participasse. “É muito seguro. Eu pude ficar na sala, com a minha mulher, durante todo o procedimento. Não há o que temer.”
O apoio veio de toda a família e Novelli garante que hoje o filho é a luz da casa. “Estamos muito felizes. Ele mudou todo o nosso ritmo, o cotidiano. As avós aparecem em casa sempre que podem para passar um tempo com ele. Meus filhos o adoram.”
Foto de Thomaz Vita Neto
Laura, Isabela e Beatriz, felicidade tripla
A enfermeira Waldeci Toledo Ribeiro, 55 anos, e o representante comercial Edenilson Rocha, 45, de Rio Preto, tinham uma vida corrida e somente depois de dez anos de casados - Waldeci já tinha 41 anos, decidiram ter filhos. Como não tinha ovulação necessária, a enfermeira começou a tomar remédios para induzir a gravidez. O método, porém, não foi suficiente.
“Eu sempre tive o sonho de ser mãe. Falei para mim - “é agora” - e parti para o médico. De cara, ele disse que seria difícil engravidar por vias normais. E, realmente, a resposta do organismo não foi satisfatória. Foi quando ele me aconselhou a partir para a técnica de fertilização.”
Sonho triplo
Depois, ela tentou, por três vezes, a fertilização in vitro. Na terceira oportunidade, desta vez no CRH Rio Preto, conseguiu. E ficou grávida de três meninas: Laura, Isabela e Beatriz, todas com 10 anos. A gravidez de Waldeci era considerada de risco, mas ela não teve problemas. “Nem pressão, nem diabetes. Trabalhei até três dias antes de ter as meninas. Foi tudo muito tranquilo.”
O casal não ficou preocupado em nenhum momento com a novidade. “Quando ficamos sabendo que teríamos três filhas, nós vibramos muito. Meu marido estava mais ansioso do que eu.” As meninas não se desgrudam. Estão na mesma turma do 6º ano escolar e vão às aulas de violão e canto juntas.
“Temos os mesmos gostos e nos damos muito bem”, diz Laura. Isabel, das três a mais vaidosa, conta que gosta de animais. “Gosto muito de brincar com eles.” Beatriz reforça a união na família. “Eu, minhas irmãs e nossos pais somos muito felizes e bastante unidos.”